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Uso de geossintéticos no saneamento básico

A escolha da melhor solução depende da ponderação das vantagens e desvantagens de cada material e de fatores como o tipo de resíduo que será descartado, o volume útil do empreendimento, uso e ocupação do entorno, dentre outros.

Os materiais geossintéticos são largamente utilizados em diferentes aplicações em projetos de saneamento básico, sejam eles para armazenamento de resíduos, tratamento de esgoto ou água. No tratamento de água para abastecimento, por exemplo, o uso de geomembranas é essencial nas lagoas de tratamento para garantir a impermeabilização dos taludes e do fundo do reservatório em ETAs e ETEs. Em ambos os casos, no entanto, a geomembrana será submetida a condições ambientais agressivas, nas quais tanto os agentes químicos utilizados no tratamento de água quanto os contaminantes presentes no esgoto atuarão sobre sua superfície e, em longo prazo, poderão trazer implicações às propriedades mecânicas e hidráulicas do material.

Pela variedade e quantidade de geossintéticos empregados, os aterros sanitários são um dos tipos de empreendimentos mais desafiadores tecnicamente para engenheiros geotécnicos. Isso porque diferentes tipos de materiais podem ser usados na sua estratigrafia. O liner de base do aterro é um bom exemplo, pois é uma camada crítica que deve atuar como barreira estanque para evitar a percolação de lixívia e vapores orgânicos para o solo e água subterrânea. Para realizar sua impermeabilização, o projetista pode considerar a utilização de geomembranas de polietileno de alta densidade (PEAD) subjacentes a uma camada geotêxtil para drenagem e proteção à punção.

Outra possibilidade, dentre tantas existentes, é o uso de geocomposto bentonítico, mais conhecido como GCL (geosynthetic clay liner), constituído por duas camadas de geotêxteis entremeadas por bentonita sódica em pó ou granular. A escolha da melhor solução depende da ponderação das vantagens e desvantagens de cada material e de fatores como o tipo de resíduo que será descartado, o volume útil do empreendimento, uso e ocupação do entorno, dentre outros. Para evitar o risco de acidentes ambientais, aterros de resíduos perigosos (Classe I) possuem mais de uma camada impermeabilizante, geralmente com uma camada drenante entre elas para detecção de possíveis vazamentos.

Durante a execução da obra, diversos cuidados devem ser tomados. Além do uso de mão-de-obra qualificada, é importante que todas as recomendações de controle e qualidade sejam atendidas para se evitar patologias como formação de bolhas, rasgos, emendas malfeitas etc. A exposição prolongada do material às intempéries também é outra variável que deve ser ponderada, já que a ação de radiação ultravioleta proveniente da luz solar tende a afetar as propriedades físicas e mecânicas de geomembranas e geotêxteis.

Para todos os efeitos, é importante que seja feito periodicamente o acompanhamento do desempenho do material, na qual uma amostra do geossintético é retirada para análise laboratorial ao longo de sua vida útil. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar maiores danos ao empreendimento, seja por conta da sua perda de desempenho ou pelo risco inerente à atividade que, nos casos acima descritos, podem gerar contaminações de grande porte, de difícil remediação e com alto custo envolvido.

Artigo de autoria de Fernando Lavoie, presidente do Comitê Técnico de Geossintéticos da Associação Brasileira das Indústrias de Nãotecidos e Tecidos Técnicos (CTG ABINT).