Mesmo com o cenário adverso em decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia, crises energéticas e outros desafios internacionais, a Comissão Econômica da Europa (Unece) afirma em seu estudo “Caminho para a Neutralidade na Europa, América do Norte e Ásia Central” que ainda é possível alcançar a meta de neutralidade carbónica até 2050. Mas, para isso, o relatório ressalta que são necessárias ações imediatas, ousadas e coordenadas mundialmente.
Obrigatoriamente, o processo de descarbonização, ou seja, a redução, neutralização e eliminação de emissões de carbono à atmosfera, passa pela transição energética. O mundo precisa, urgentemente, transformar a matriz de energia baseada no uso de combustíveis fósseis para fontes alternativas consideradas limpas e renováveis.
Entre as apostas para um mundo livre de emissões de carbono está a utilização do hidrogênio verde como fonte de energia, tendo a eletrólise da água, que consiste na passagem de corrente elétrica em uma solução de salmoura, como uma das principais metodologias de produção desse combustível.
De acordo com dados de mercado, aproximadamente 4% do hidrogênio atualmente consumido no mundo tem origem em plantas de eletrólise, especialmente de cloro-álcalis, o que coloca as indústrias desse setor em posição de destaque. Na Europa, até 2030, serão investidos € 430 bilhões na cadeia produtiva do H2, aumentando para 40 GW anuais a produção de energia a partir da eletrólise, tendo o investimento privado como catalisador do processo, segundo o Portal Hidrogênio Verde. No Brasil, a maior parte das plantas utilizam energia proveniente de fontes renováveis e as empresas ainda estão implantando projetos de autoprodução de eletricidade a partir de fontes como solar e eólica.
As indústrias brasileiras de cloro-álcalis têm capacidade para produzir 40 mil toneladas de hidrogênio verde por ano (a estimativa considera um rendimento de 90% do processo), que poderiam, por exemplo, substituir 60 mil toneladas de gás natural – o que evitaria a emissão de 160 mil toneladas de gás carbônico para a atmosfera, contribuindo ainda mais para o processo de descarbonização do planeta.
Os cenários apontam para um futuro promissor para a produção de H2 pelas indústrias do setor de cloro-álcalis no Brasil. A estimativa é que a produção poderá atingir 70 mil toneladas nos próximos dez anos. O marco regulatório do saneamento, em nossa visão, será um dos grandes propulsores dessa produção no Brasil. As metas estabelecidas no marco determinam que até 2033, 99% da população tenha acesso à água potável e 90% à coleta e tratamento de esgotos. E para que sejam atendidas, as empresas do setor de cloro-álcalis preveem um aumento de 700 mil toneladas na produção de cloro, o que resultaria em uma produção adicional de 18 mil toneladas de hidrogênio.
Em segundo lugar, o processo de eletrificação em todo o mundo, tendo o setor de transporte como ícone desse movimento. Essa transformação em curso demandará aumento na produção de energia elétrica de fontes renováveis e de mecanismos de armazenamento como, por exemplo, as baterias de lítio de alta capacidade e que sejam recarregáveis. Dados da Agência Internacional de Energia (IEA) indicam que a demanda por esse metal aumentará em até 40 vezes até o ano de 2040. A soda cáustica, um dos produtos do setor de cloro-álcalis, é utilizada em toda a cadeia de produção do lítio, desde a etapa de mineração, processamento, produção e até o de reciclagem. Portanto, com o aumento da produção desse produto, automaticamente, também haverá um crescimento na geração de H2 pelo setor.
Apesar dos cenários promissores, ainda há algumas barreiras a serem superadas. O preço da energia elétrica no Brasil ainda é muito alto, o que limita a competitividade das indústrias locais. Também há desafios em infraestrutura relacionados ao armazenamento e transporte do H2.
Mas o mercado é promissor e os investimentos para a viabilização dessa energia limpa poderão colocar o Brasil na vanguarda mundial nesse setor. O combustível é a principal aposta para um rápido processo de descarbonização. E o fortalecimento das indústrias do setor de cloro-álcalis, com políticas de estado eficiente, energia competitiva e regulação que traga segurança jurídica, será fundamental para o país avançar ainda mais e confirmar o seu papel estratégico no processo de descarbonização que, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), é “a missão mundial mais urgente”.