A última edição de 2016 do boletim “Cloro em Síntese”, informativo da Associação Brasileira da Indústria de Cloro-Álcalis e Derivados (Abiclor), traz uma entrevista com o engenheiro especialista em dinâmica de veículos pesados, perito em acidentes e autor do livro “Amarração de Cargas”, Rubem de Melo Penteado. Responsável pelo treinamento de mais de 6 mil motoristas de cargas nos últimos anos, Penteado afirma que 90% dos tombamentos são causados por erro na avaliação de velocidade. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:
A Resolução nº 552 do Contran, que regulamenta a amarração de cargas, e de cuja elaboração o senhor participou, vai ajudar a evitar os tombamentos?
Penteado: Sim, com essa resolução, que entrará em vigor em janeiro de 2017, teremos veículos mais seguros nas rodovias. Os deslocamentos de carga dentro do caminhão são muitas vezes as causas do tombamento. Os veículos de carga no Brasil estão 40 anos atrasados em relação à Europa nesse quesito. Os motoristas estarão mais protegidos não só contra acidentes, mas também na hora de carregar e descarregar o caminhão. Não vai mais ser preciso usar a força para fazer o nó carioca ou nó de caminhoneiro, utilizado na amarração de cargas. Esse trabalho será feito por catracas que vêm junto com as cintas.
Os acidentes com cargas químicas são causados mais por falha humana ou por falhas técnicas?
Penteado: Na maioria das vezes por falhas humanas.
Por que o tombamento é o que oferece risco maior?
Penteado: Esse tipo de acidente grave, na maioria das vezes com vítimas, é causado por excesso de velocidade e manobras bruscas e, segundo pesquisas, respondem por 45% dos acidentes que têm como vítima o caminhoneiro. Para cada caminhão roubado no País, há oito tombamentos, segundo dados das seguradoras. É importante entender como ocorre o tombamento para evitar esse tipo de acidente. Caminhões carregados tombam antes de derrapar, por isso o motorista não pode errar na velocidade. Já o carro de passeio, quando o motorista exagera na velocidade, derrapa e, se encontrar algum obstáculo, como meio fio ou buraco, pode tombar.
O que as empresas podem fazer para diminuir os acidentes causados por tombamentos?
Penteado: Preparar melhor os motoristas, para que não realizem manobras arriscadas e reduzam a velocidade antes de entrar na curva. Eles não são preparados para dirigir veículos de carga e, além disso, têm dificuldade de aceitar novas informações. A dica para caminhões tanques quando estão carregados, é trafegar com velocidade 20 km abaixo do que diz a placa de trânsito nos pontos críticos para tombamentos: curvas, alças de acesso, retorno e rotatórias. Se essas orientações forem seguidas, é possível reduzir os acidentes por tombamento.
A legislação brasileira de construção de estradas e sinalização de rodovias é falha?
Penteado: Ela precisa ser atualizada, pois é baseada em normas da década de 50. Naquela época, o maior caminhão pesava 32 toneladas. Hoje, temos conjuntos de 74 toneladas. A formação dos condutores também precisa ser atualizada. Na autoescola, o motorista não é informado, por exemplo, que o líquido do tanque balança e afeta a dirigibilidade.
O que deve ser a aprimorado na sinalização nas estradas?
Penteado: Deveria haver sinalização específica para veículos de carga. A maioria das curvas nas estradas não tem indicação objetiva de velocidade para cargas e os sistemas de telemetria e rastreamento não têm capacidade para identificar as curvas perigosas e informar a velocidade correta ao motorista. Ainda não existe um “waze” para caminhão, mas, certamente, surgirão apps para ajudar o motorista.