Estudos mapearam áreas com 2,2 milhão de pessoas sem acesso seguro à água; quase metade vive nas 50 maiores áreas metropolitanas do País
Uma pesquisa conjunta da Universidade do Arizona (EUA) e do King’s College London (Reino Unido) promoveu uma investigação sobre acesso a água tratada e esgotamento sanitário nos Estados Unidos. “Sem água da torneira, como você lava as mãos? Em uma pandemia global de saúde como da COVID-19, a diferença entre acesso seguro e inseguro à água – começando com os 65.000 nova-iorquinos não canalizados – é uma questão de vida ou morte”, apontaram os pesquisadores.
O estudo revelou que a maior parte das famílias sem água encanada residem em casas móveis (motor homes) ou alugadas. “Oferecemos evidências de que as lacunas no acesso urbano à água não são aleatórias ou acidentais, mas sustentadas por condições precárias de moradia e desigualdade social”, concluem os autores do trabalho.
De fato, outro estudo identificou que, embora o acesso à água e ao saneamento seja supostamente universal nas vilas e cidades dos EUA, as estatísticas oficiais não contabilizam as pessoas sem casas ou com moradias precárias. Cientistas do Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA) constataram que quando esses fatores são considerados, o número de pessoas sem acesso a um banheiro com descarga ultrapassou a marca 630.000.
Embora a porcentagem de pessoas sem serviços de saneamento básico seja baixa nos EUA, escrevem os autores do estudo, o número absoluto é grande para “um país de alta renda onde há recursos para resolver o problema”.
A crise hídrica oculta nos EUA
Em 2019, a US Water Alliance e a Dig Deep divulgaram um relatório propondo um plano de ação para enfrentar o que chamaram de “crise oculta da água da América”. As duas organizações sem fins lucrativos estimam que mais de 2,2 milhões de pessoas nos EUA não têm acesso a água potável e esgotamento sanitário.
O documento Closing the Water Gap in the United States aponta que o governo dos EUA não coleta dados abrangentes sobre a pobreza hídrica, o que dificulta uma avaliação acurada do problema para aqueles que são mais afetados: comunidades de baixa renda e comunidades de afro-americanos, indígenas, hispanos e outras etnias.
O relatório cita evidências de que as famílias nativas americanas são 19 vezes mais propensas do que as famílias brancas a ter encanamento inadequado. Além disso, as famílias afro-americanas e latinas têm quase duas vezes mais chances de enfrentar esse tipo de dificuldade do que as famílias brancas.
Os autores do relatório deixam claro que o problema não são as habitações isoladas em que viveriam pequenas comunidades afastadas da rede. O que verificaram foi uma coleção de comunidades inteiras que não têm acesso a água potável e saneamento seguro. O relatório Closing the Water Gap in the United States conclui que nas comunidades rurais, ao contrário das vilas e cidades, a causa principal da pobreza hídrica é o isolamento dos serviços municipais de água.
Nas áreas urbanas, os fornecedores de serviços públicos de saneamento básico tendem a cobrir os custos de instalação e manutenção das linhas de água e esgoto. No entanto, para comunidades muito distantes desses sistemas municipais, os domicílios individuais podem ser responsáveis pela instalação de um poço privado e sistema séptico, muitas vezes com apoio técnico e financeiro mínimo. A ausência de suporte é uma das causas do problema, segundo o relatório.
“Na Nação Navajo, no Sudoeste dos EUA, as famílias dirigem por horas para transportar barris de água para atender às suas necessidades básicas. Na Virgínia Ocidental, há localidades em que a população bebe água de córregos poluídos. Em alguns pontos do Alabama, descobrimos que os pais alertam seus filhos para não brincarem ao ar livre porque seus quintais estão inundados de esgoto”, relatam os pesquisadores. Entre as soluções propostas, os pesquisadores argumentam que são necessários subsídios governamentais adicionais, bem como assistência operacional e técnica. Em março de 2021, o governo dos EUA publicou um programa de investimento que inclui US$ 111 bilhões em investimentos em infraestrutura hídrica. O plano inclui US$ 56 bilhões em doações e empréstimos para estados, tribos, territórios e comunidades desfavorecidas.