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Má qualidade de banheiros escolares pode afetar qualidade do ensino de crianças e adolescentes

Estudo divulgado no Dia Mundial do Banheiro aponta relação entre condições precárias de saneamento básico das escolas e baixo desempenho estudantil

Uma pesquisa realizada em quatro países – Índia, Polônia, África do Sul e Reino Unido – detectou que negar às crianças e adolescentes o acesso a banheiros seguros e limpos em ambiente escolar é um desrespeito que acarreta consequências para o aprendizado. Segundo o organizador do estudo, Kwame Akyeampong, professor de Desenvolvimento e Educação Internacional (Open University – Reino Unido), há uma crise ignorada sobre o tema que tem potencial para minar os esforços para atingir acesso à educação de qualidade para todos, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ODS 4).

“Saneamento básico nas escolas é um direito, não um privilégio. Instalações sanitárias bem mantidas e limpas demonstram respeito pelas crianças e seu bem-estar. Quando se sentem confortáveis usando o banheiro da escola, elas têm uma coisa a menos para preocupá-las, o que significa que podem manter o foco durante as aulas”, pontua Akyeampong. De fato, um dos efeitos detectados na pesquisa é que ao relutar em usar o banheiro da escola e “segurar”, o desconforto físico compromete a concentração durante as aulas.

Nove entre cada dez crianças e adolescentes ouvidos reportaram reclamações sobre os banheiros escolares como a falta de sabão para lavar as mãos (54%), instalações inseguras (39%), pouca privacidade por falta de portas nas cabines (29%) e falta de espaço adequado para lidar com o período de menstruação (18%). Uma entre cada dez crianças ouvidas afirmou deixar de fazer refeições e até de beber água para evitar ir ao banheiro durante o período das aulas e reconheceram que isso prejudica a concentração, o que compromete o aprendizado.

Uma crise secreta

O estudo ouviu também os pais de alunos dos quatro países pesquisados. O que se verificou é que há um hiato imenso de diálogo sobre o assunto, o que torna a precariedade do saneamento básico nas escolas uma espécie de “crise secreta”. Apesar de 90% das crianças apresentarem alguma queixa sobre o tema, 65% dos pais e mães ouvidos disseram estarem felizes com as condições dos banheiros das escolas de seus filhos.

A desproporção de percepção sobre o problema aponta para um tabu, o que se confirma com o seguinte dado: apenas 15% das crianças disseram terem conversado com um adulto (pais, professores ou profissionais de limpeza) sobre as dificuldades que enfrentam com a falta de condições adequadas nos banheiros dos locais de estudo.

Caminhos para soluções

No Dia Mundial do Banheiro (19/11), o Toilet Board Coalition realizou o Webinar “Mesa Redonda de Saneamento Escolar e Educação Sanitária”, reunindo profissionais de diferentes continentes, dedicados a criar e implementar soluções para um problema que aflige crianças de Países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Bella Monse, da agência estatal alemã de desenvolvimento (GIZ), relatou um pouco das experiências para endereçar a questão com governantes e gestores públicos de algumas nações. “A iniciativa privada deve atuar em suporte, com desenvolvimento de tecnologias de saneamento e meios para implementação”, pontuou. Ela conta que há um problema universal que não depende somente de dinheiro para investimentos: “em todo novo banheiro de escola construído sem suporte de engenharia especializado, a primeira coisa que quebra é sempre a descarga”. Escolha de modelos impróprios e instalação incorreta do dispositivo são as principais causas desse problema, apontou Monse.

Ishtpreet Singh, director do Toilet Board Coalition na Índia, aproveitou o debate para destacar o papel pedagógico que banheiros e condições adequadas de saneamento básico proporcionam em espaços de convívio e aprendizado. “Nas escolas, a disponibilidade de descarga e sabão para lavar as mãos tem a capacidade de mudar o comportamento das crianças que poderão levar certos hábitos de cuidado com a higiene para suas casas e, muito provavelmente, para as próximas gerações”, explicou Singh.

O Toilet Board Coalition é uma organização não governamental de afiliação liderada por empresas, investidores e doadores dedicados a impulsionar o envolvimento do setor privado em favor do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6, da ONU – garantia de água potável e saneamento básico para todos.

A realidade brasileira

Não há uma pesquisa de opinião com estudantes brasileiros sobre o tema; todavia, diante dos números constatados pelo Censo Escolar 2020, do Ministério da Educação (MEC), não seria incorreto afirmar que a percepção de nossas crianças e adolescentes também é ruim e, por consequência, que tenhamos parte dos efeitos negativos constatados na pesquisa atormentando nossas crianças.

Pelo levantamento, 4.325 escolas brasileiras sequer têm banheiro para alunos e professores. Quanto ao fornecimento de água potável, ainda há 8.684 unidades de ensino que não contam com este bem imprescindível em suas torneiras. O Censo Escolar 2020 também constatou que 36% das escolas brasileiras não estão conectadas à rede de coleta de esgoto ou a qualquer sistema de sanitização.