Abiclor

Projeto Aquapolo é exemplo de iniciativa sustentável de saneamento

Escassez de água afeta a vida e a organização social em múltiplas dimensões, o que impõem cumprir metas de reuso da água.

Dados da Agência Nacional de Águas (ANA) apontam que, no Brasil, nos últimos 20 anos, o total retirado de água aumentou em cerca de 80%; a Agência ainda prevê que a retirada deve aumentar em 24%, até 2030. Os dados acendem a luz de alerta para acelerar mudanças de processos e implementação de infraestrutura que possam garantir fornecimento de água potável nas residências dos brasileiros, bem como para as atividades dos setores agrícola e industrial.

De modo correto, a legislação brasileira prioriza o fornecimento doméstico em épocas de escassez que impliquem racionamento. Todavia, permitir a concretização de um cenário de tal gravidade pode acarretar prejuízos socioeconômicos graves, comprometendo renda, empregos e qualidade de vida. “O futuro depende de mudanças urgentes, como o uso mais racional e eficiente nos setores industrial e agrícola, o que
demanda investimento no reuso de água”, afirma Marcio da Silva Jose, conselheiro do Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC (COFIP ABC).

Interromper o funcionamento de linhas de produção, perder rebanhos e colheitas por falta de água também pode comprometer o abastecimento de produtos essenciais, inclusive, provocando alta de preços. Essa projeção está exemplificada na recente estiagem que encareceu os produtos de proteína animal, em decorrência da quebra da safra de milho, essencial para produção da ração para bovinos e aves.

Na agroindústria, há iniciativas de reaproveitamento de água extraída da vinhaça da cana-de-açúcar, um passivo ambiental da produção de etanol. A água de reúso não potável também pode ser usada em incontáveis processos industriais. Na indústria têxtil, por exemplo, a produção de uma calça jeans demanda mais de 5 mil litros de água, desde o plantio de algodão até o tingimento do tecido. Outros setores fabris demandam água para o resfriamento e condensação de produtos, refrigeração de equipamentos, controle de temperatura para usinagem e forja, geração de vapor e diluição de químicos.

Aquapolo

No Polo Petroquímico do Grande ABC, o projeto Aquapolo é uma iniciativa bem-sucedida de reuso de água para fins industriais: o esgoto de uma estação da Sabesp é tratado para atender grande parte das empresas instaladas na região. Estima-se que, no período de oito anos, o conglomerado industrial deixou de usar água potável suficiente para atender uma cidade de 500 mil habitantes.

“A solução reduz a captação de água nos mananciais e garante o fornecimento mesmo em situações de crise hídrica, deixando as empresas menos vulneráveis a riscos e perdas. Esse aspecto é ainda mais relevante na região do ABC em que a disponibilidade hídrica é baixa”, explica Marcio da Silva Jose. Segundo dados do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, a disponibilidade hídrica do ABC Paulista é de apenas 135 m3 por habitante/ano; enquanto a recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU) é de 2.500 m3.

O Aquapolo conta com uma adutora de 17 quilômetros de extensão e atende 14 plantas industriais, desde a Estação de Tratamento de Esgoto do ABC (ETE ABC) até Santo André. A estrutura fornece mais de mil litros de água por segundo, sendo o maior projeto de água de reuso para fins industriais do hemisfério sul.

A Agência Nacional de Águas apurou que o Brasil aplica água de reuso em patamar de 2.000 litros por segundo. Entre as metas que estabeleceu para a preservação dos recursos hídricos, a agência propõe atingir 13 mil litros por segundo de água de reuso, até 2030.