Estudo constatou que áreas com esgoto a céu aberto têm partículas de ar com micróbios e até parasitas causadores de doenças
Em dois trabalhos de campo desenvolvidos em La Paz (Bolívia) e Kanpur (Índia), o professor doutor de ciências ambientais e engenharia Joe Brown, da UNC Gillings School of Global Public Health (EUA), encontrou evidências de que a proximidade com o esgoto a céu aberto pode ser suficiente para a transmissão de doenças, mesmo sem contato físico com o material contaminado.
Micróbios que causam enfermidades transmitidas por resíduos estão presentes em partículas de ar ao redor dessas áreas e têm o potencial de se espalhar para o ambiente circundante, colocando em risco os habitantes locais. O pesquisador descobriu que os aerossóis em La Paz e Kanpur continham níveis mais altos do que o esperado de patógenos intestinais perto de esgotos a céu aberto, diretamente adjacentes a áreas densamente povoadas.
“Embora esperássemos encontrar indicadores de contaminação fecal no ar, ficamos surpresos ao verificar uma variedade tão diversificada de patógenos entéricos, incluindo vários não identificados anteriormente em ambientes urbanos ao ar livre”, relatou Brown. A lista traz a giardia, parasita causador da giardíase, norovírus e várias bactérias patogênicas que estão entre as mais prevalentes de doenças intestinais em todo o mundo.
Joe Brown coordenou a pesquisa realizada em conjunto com cientistas do Indian Institute of Technology, Universidad Católica Boliviana e Georgia Institute of Technology. De acordo com o professor, os dados sugerem que os patógenos entéricos podem ser transportados em aerossóis em ambientes com esgoto a céu aberto ou cursos d’água que recebem resíduos. Mais pesquisas com base nessas descobertas ajudarão os especialistas a entender o papel que essa via desempenha na transmissão de infecções.
“Estamos trabalhando para desenvolver modelos de avaliação de destino, transporte e risco quantitativo para entender as implicações dos aerossóis relacionados ao saneamento básico em cidades com precariedade desse serviço”, explica Brown. “Sabemos agora que os patógenos entéricos podem voar sob algumas condições. As questões restantes são sobre se esses fenômenos contribuem para o risco de doenças em ambientes ricos em patógenos”, conclui.
O impacto do saneamento básico
A equipe de pesquisa escolheu as cidades de La Paz e Kanpur devido à infraestrutura sanitária precária, incluindo esgoto a céu aberto que recebe resíduos domésticos, comerciais, institucionais e industriais próximo ao núcleo urbano.
A infraestrutura de saneamento básico abaixo do padrão cria oportunidades para que doenças transmitidas por resíduos se espalhem por vários caminhos, incluindo contato direto, indiretamente – e por meio de alimentos.
Para entender a proporção em que a deficiência em saneamento básico contribui para esse cenário negativo, os pesquisadores realizaram coletas com o mesmo padrão na cidade de Atlanta, nos Estados Unidos. O município tem uma densidade populacional comparável com as outras duas cidades pesquisadas e serviu como local de referência porque possui um sistema de saneamento subterrâneo estabelecido e com boa rotina de manutenção.
“Notavelmente, 76% das amostras de Kanpur e 25% das amostras de La Paz foram positivas para Escherichia coli cultivável, indicando que pelo menos alguns micróbios entéricos nessas amostras podem ter sido viáveis ou capazes de infectar no momento da amostragem”, conta Brown. Em contraste, nenhum patógeno foi encontrado em partículas de aerossol coletadas em Atlanta.
A Escherichia coli é uma das bactérias mais presentes em infecções intestinais humanas, podendo desenvolver algumas cepas causadoras de sintomas graves e danos significativos à saúde.