Por Hudson José, diretor adjunto de Comunicação e Marketing da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná).
O ano de 2020 começou registrando a pior crise hídrica da história do Paraná. A falta de chuvas, combinada com as temperaturas elevadas, colocou o estado em alerta, comprometendo cerca de 80% do seu território. A seca foi um fenômeno que se acentuou em todas as regiões e trouxe maiores consequências para Curitiba e Região Metropolitana, onde cerca de 3,6 milhões de pessoas passaram a conviver com esse quadro na versão mais severa.
Em maio daquele ano, o Governo do Estado editou o primeiro Decreto de Emergência Hídrica, priorizando a água para o consumo humano e atestando claramente que a situação estava em um nível crítico. Seis meses depois, o volume de reservação das quatro barragens que compõem o Sistema de Abastecimento Integrado da Região Metropolitana de Curitiba (SAIC) registrou o seu pior índice histórico com apenas 26,77% em 11/11/2020.
A Sanepar respondeu a esse processo identificando as vulnerabilidades e desenvolvendo, em um processo coordenado e sistemático, uma série de ações e obras para mitigar o efeito perverso da seca. Apoiada nas melhores práticas de inovação e acionando o seu protocolo de crise, a Companhia de Saneamento do Paraná intensificou o trabalho e as obras em várias frentes.
Além da necessária implantação de um sistema de rodízio no abastecimento, iniciado em março de 2020, foram executadas mais de 20 medidas para compensar a queda na vazão de rios e poços que impactou drasticamente a produção de água para o abastecimento público. As soluções incluíram desde captações emergenciais e transposições a antecipações de obras estruturantes e a semeadura de nuvens para induzir chuvas nas cabeceiras dos rios.
Porém, era necessária uma nova postura no consumo. Partimos do princípio de que as mudanças de comportamento contribuem para superar crises e inibir, ou evitar, a sua repetição. Mais do que superar esse momento, a Sanepar entendia que era possível um novo pensamento, uma nova forma de agir. Por isso, apresentamos uma proposta aos nossos clientes. Em agosto de 2020, lançamos a campanha META20, apoiada em um amplo programa de comunicação, para que a população adotasse práticas de uso racional e econômico da água fornecida pela Companhia com o objetivo de que essa economia alcançasse o índice de 20% em relação ao consumo médio mensal.
Mais do que dividir um problema comum, compartilhamos uma solução possível com a ajuda de todos. Sem eximir a responsabilidade da Sanepar, com um amplo espectro de ações e um volume consistente de investimentos, propusemos à população a prática de novos hábitos que resultariam em benefício de todos sem alterar significativamente a rotina, tampouco com a necessidade de o cidadão fazer qualquer investimento.
Foi uma proposta de mudança para reverter uma tendência. Uma projeção do comportamento das barragens, sem as ações implementadas, mostra que o sistema teria entrado em colapso em outubro/novembro de 2020, quando as barragens teriam atingido níveis entre 12,7% e 13,1%, o que praticamente inviabilizaria o fornecimento de água. E este cenário de colapso se repetiria a partir de julho/agosto de 2021, quando os níveis chegariam a 11%, baixando até 4,5% em outubro de 2021.
A população respondeu. De agosto de 2020 a dezembro de 2021, dentro da Meta20, houve redução média 17,17% no consumo. A meta foi plenamente alcançada já no terceiro mês da campanha: economia de 20,05% em outubro de 2020 e, de julho a setembro de 2021, ficamos na média de 19,59%.
Saímos do rodízio em janeiro último, depois de 19 meses. Trabalhamos juntos: Sanepar e população e, mais do que reverter uma tendência, superamos uma grave crise adquirindo um novo hábito que tem como base o respeito à natureza, o reconhecimento do limite das nossas fontes de recursos e a consciência de que as boas práticas são possíveis, simples e eficientes. O aprendizado ficou e a mudança foi incorporada.
*Hudson José é diretor adjunto de Comunicação e Marketing da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar)