Em média, cada ETA gera cerca de 5% deste tipo de resíduo ante o total de água tratada.
Quando o assunto é água limpa, o tratamento de ciclo completo é o mais adotado no Brasil. Esse método tem seis fases: captação, coagulação, floculação, decantação, filtração e cloração. A sequência de processos nas ETAs (Estações de Tratamento de Água) gera um subproduto denso e viscoso, formado pelo conjunto de substâncias retiradas da água durante o tratamento.
A destinação inadequada desse material, chamado de lodo, pode causar danos ambientais, como contaminação do solo, nascentes, mananciais e rios. O desafio para preparar este resíduo para uma destinação final ambientalmente adequada está em encontrar a técnica mais eficiente para as características da água captada em cada ETA. Diferentes locais de retirada entregam água com características singulares, demandam o uso de diferentes dosagens de coagulante, resultando em compostos residuais diferentes.
“O adensamento é uma das soluções possíveis e resulta em um lodo mais compacto e com menor quantidade de água”, conta André Luis Góis Rodrigues, gerente do departamento de Tratamento de Água da Sabesp. A ETA Alto Cotia, na região metropolitana de São Paulo, é um exemplo do emprego desta técnica, que diminui a perda de água e o volume de lodo.
Além do emprego da melhor técnica possível para o tratamento e a destinação do lodo, o bom gerenciamento ambiental de uma Estação implica adoção de medidas que possam diminuir a retirada de água de rios e reservatórios. “O reaproveitamento da água de lavagem de filtros e de decantadores, bem como de águas pluviais, auxilia no menor impacto de retirada do bem da natureza, gerando economia de água bruta nos mananciais”, acrescenta Rodrigues sobre as práticas adotadas na ETA Alto Cotia.
Regra geral, no Brasil, os cuidados para diminuir a produção de lodo precisam de reforço no período chuvoso, entre os meses de novembro e março. Isto ocorre porque a qualidade das águas dos mananciais piora, especialmente quanto à turbidez – o que acarreta a necessidade de se utilizar maiores quantidades de químicos para o tratamento, notadamente os coagulantes.
Além da disposição no solo, importante para qualificar aterros sanitários, o lodo resultante do tratamento de água pode ter outras finalidades, dependendo das características próprias e das potencialidades econômicas da região em que a ETA está instalada. Em determinadas localidades, é possível destinar o material para a fabricação de cimento e tijolos, cultivo de grama comercial, compostagem e plantações de cítricos.
Infelizmente, ainda há casos no Brasil de estações que despejam o lodo in natura nos corpos hídricos onde realizam a captação. A prática vem sendo suprimida e há expectativa de que a universalização do saneamento básico, amparada pela Lei 14.026/2020, venha acompanhada da substituição de tais práticas por processos de menor impacto ambiental. Afinal, o material aumenta a turbidez da água e acaba por elevar a demanda química de oxigênio, causando impacto nos ecossistemas locais.