Levantamento do Banco quantificou as necessidades para nortear investimentos na ampliação da capacidade produtiva desses setores
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aponta que serão necessários R$ 32 bilhões anuais, até 2033, em investimentos para que empresas operadoras e indústrias do setor atendam as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (PlanSab). O dado foi obtido por meio de um estudo em que o Banco compilou dados de cinco grandes projetos de saneamento básico, financeiramente estruturados por meio dele, nos Estados do Amapá, Alagoas, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
O estudo serviu para organizar uma modelagem matemática que, aplicada para as necessidades dos demais estados brasileiros, resultou em duas projeções: Cenário Base, com obras previstas para curto e médio prazos, e Cenário Transformador, com atendimento, nos próximos 12 anos, da totalidade das metas do PlanSab. “O objetivo desse trabalho é trazer uma maior previsibilidade dos investimentos para que a cadeia de fornecedores possa se preparar para a demanda adicional gerada a partir do novo Marco Legal do Saneamento Básico”, explicou Flávio Mota, chefe do Departamento de Indústrias de Base e Extrativas do BNDES, em vídeoconferência de lançamento do estudo Impactos do Marco do Saneamento na cadeia de fornecedores.
Isolando a demanda das três principais cadeias industriais do setor de saneamento básico, químicos, tubos e equipamentos, o volume de compras dos principais produtos é projetado em R$ 87,8 bilhões e R$ 110 bilhões, para os Cenários Base e Transformador, respectivamente, até 2033. “Estamos discutindo, entre as associações do setor, a organização da cadeia de suprimentos: não adianta pensar em saneamento básico olhando apenas para os operadores”, afirmou Percy Soares Neto, diretor executivo da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon).
Os entregadores do saneamento básico
Considerando-se um dos itens mais importantes para o setor, os cálculos do BNDES apontam que serão necessários 410 mil quilômetros de tubos (PVC, PEAD, concreto e ferro fundido), o que equivale a 64 vezes a extensão da costa brasileira. O número representa a projeção de Cenário Base; ou seja, para cumprir a meta do PlanSab, o número poderá chegar a mais de 490 mil quilômetros. Desse total, 64% serão destinados para as redes de coleta de esgoto e o restante para entrega de água tratada.
Nesse universo, o BNDES prevê que, sem ampliação ou rearranjo da capacidade produtiva de determinados itens, haverá falta de tubos de ferro fundido e tubos de PVC já em 2024. No caso dos tubos de PVC, a capacidade produtiva nacional dedicada ao saneamento básico precisará de incrementos consistentes anualmente, com a finalidade de atingir o dobro do patamar atual em 2030, ano de pico da demanda pelo material.
Material com melhor custo-benefício na construção de infraestrutura de coleta e tratamento de água e esgoto (leia mais), o policloreto de vinil (PVC) tem o peso composto por 57% de cloro (Cl) e 43% de eteno (C2H4). Ou seja, a ampliação ou reorganização da capacidade de produção de tubos de PVC requer a participação da indústria de produtos químicos. “As respectivas indústrias já estão se preparando para atender a elevação da demanda. Esse movimento será mais afinado e qualificado com os dados quantitativos estruturados e as projeções produzidas pelo BNDES”, ressalta Martim Afonso Penna, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor).
Pelas projeções do BNDES, a demanda por tubos terá o pico em 2030 e será correspondente a R$ 4 bilhões; no período de 2022 a 2033, o total de compras de tubos poderá ultrapassar a marca de R$ 37 bilhões, apenas considerando os projetos de saneamento básico, desconsiderados os setores de construção civil e consumidor final.