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A universalização do acesso ao saneamento básico no Brasil pode reduzir até 6,8% do atraso escolar

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou, em julho de 2014, que a população brasileira atingiu 202,7 milhões de habitantes. Do total de crianças, com idade entre 7 e 14 anos, 97% estão na escola. Mas, de que forma a falta de saneamento básico no Brasil atinge diretamente o rendimento escolar, o aprendizado e a frequência escolar dessas crianças?

De acordo com dados do Instituto Trata Brasil, crianças com acesso a saneamento básico chegam a ter um aproveitamento de 20% no rendimento escolar. Um estudo do mesmo Instituto, de 2011, mostrou que 50% das internações por diarreias ocorreram em crianças com até cinco anos. Exatamente na faixa etária quando a criança precisa ter a saúde mais preservada e, principalmente, a atividade cerebral está em desenvolvimento. Segundo vários pediatras, inclusive alguns deles embaixadores do instituto, as diarreias constantes desidratam as crianças, e com isso pode haver comprometimento da capacidade de aprendizado escolar para a vida toda.

Para o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, a falta de saneamento básico está ligada diretamente com a performance escolar da criança, uma vez que o aprendizado está totalmente conectado à saúde. “Todo cidadão tem direito a água limpa e esgoto tratado. São princípios básicos do desenvolvimento do ser humano. Quando deixamos de oferecer o saneamento básico (água e coleta e tratamento dos esgotos), as crianças são as primeiras a sentirem”, afirma Édison.

No ano passado, o Instituto apresentou outros estudos, que mostraram os benefícios da universalização do saneamento básico no país. Um capítulo inteiro, destinado a educação, apresentou que a universalização do acesso à coleta de esgoto e água tratada traria uma redução de 6,8% no atraso escolar dos alunos que vivem em regiões sem saneamento.

Para Guilherme Girol, um dos diretores da SANOVA – Inovação em Saneamento, empresa que fornece soluções especializadas em sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, presente há seis anos no mercado brasileiro, são vários os desafios a serem enfrentados em várias regiões do Brasil. “Faltam políticas públicas por parte dos governantes e maior eficiência na elaboração e execução de projetos e obras, principalmente. Em relação aos projetos, é necessário que as empresas busquem ferramentas de otimização (softwares) para a elaboração dos mesmos. Estes, além de projetarem a infraestrutura necessária para atender as demandas de água e esgoto, conseguem simular condições futuras, como por exemplo, o crescimento populacional e o impacto que isso irá acarretar no projeto”.

Historicamente, as regiões do Nordeste e Norte ainda estão atrasadas no que se refere aos serviços de coleta e tratamento dos esgotos. A região Norte é a mais preocupante, onde grandes cidades não coletam e tão pouco, tratam o esgoto. Essa realidade além de impactar no rendimento escolar, exerce impacto negativo em outras áreas como no turismo e até mesmo na valorização ambiental. O Sul é uma região que também apresenta indicadores alarmantes na coleta e tratamento de esgotos. Exceto o Paraná, que apresenta dados melhores, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ainda estão distantes do cenário ideal. Já as regiões do Centro-Oeste e Sudeste apresentam os melhores índices, mas ainda têm desafios pela frente. Cidades aonde a universalização do saneamento já chegou, como é o caso de Limeira e Franca, ambas no estado de São Paulo, e Uberlândia em Minas Gerais, os índices de internações por doenças de veiculação hídrica são menores, a taxa de desempenho escolar é considerável e a valorização ambiental é assegurada.

É importante salientar que quando se fala em saneamento, logo costuma-se lembrar dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Mas o conceito é formado também por drenagem urbana e os resíduos sólidos, compondo assim os quatro pilares do saneamento básico. Atualmente, o setor no país está custeando uma conta onerosa, devido à ausência do investimento que o setor deixou de receber por cerca de 30 anos, com a extinção do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANASA), criado na década de 1970 e extinto na década seguinte. Este atraso está sendo revertido, de forma lenta, com ações voltadas principalmente para a ampliação das redes de esgotamento sanitário.

Fonte: Revista Meio Ambiente Industrial, 26/05/15